As estimativas relacionadas a saúde mental da população mundial não são animadoras. Estima-se que uma em cada duas pessoas deve desenvolver algum tipo de transtorno mental ao longo da vida. No Brasil o cenário também não é animador. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com ansiedade, o que equivale a 9,3% da população.
Embora os transtornos mentais sejam multideterminados, ou seja, suas causas não costumam ser ocasionadas por apenas um elemento, faz sentido acreditar que em boa medida esta situação de adoecimento da população tenha a ver com a inabilidade das pessoas em lidar com as suas emoções. As pessoas que não lidam bem com suas emoções costumam responder de forma desfavoráveis a si em determinadas situações.
O sentimento de insegurança pode fazer com que a pessoa sinta ciúmes ou se sinta rejeitada; o sentimento de humilhação pode gerar raiva, a raiva pode levar a atitudes impulsivas; o sentimento de frustração com os relacionamentos pode fazer com que a pessoa desvie sua paixão pelas pessoas e invista 100% da sua paixão no trabalho.
Todas as situações são exemplos de modo, na maioria das vezes inadequado de lidar com os sentimentos, que as pessoas desenvolvem justamente por não aprenderem a lidar de forma mais adequada com o que sente. Mas é possível seguir um outro caminho? Sim, é possível! Especialmente através da educação. Na infância e na adolescência as pessoas podem aprender a não lidar de forma disfuncional com os sentimentos.
E como os pais podem fazer isso? Usando as situações do dia a dia como oportunidades para educar emocionalmente os filhos. Por exemplo, vamos imaginar a situação em que um filho pede algo para a mãe e que esta diz não por entender que aquele não é o momento. Vamos agora imaginar que o filho não reaja bem aquela frustração provocada pela negativa da mãe e vá para o quarto e bata muito forte a porta como uma forma de extravasar a sua raiva.
Em uma situação como essa, a mãe pode ir até o quarto e brigar severamente com o filho pelo seu comportamento, dizendo que ele não pode faltar com o respeito, e ainda colocá-lo de castigo por uma semana pela sua atitude. Esta certamente é uma maneira muito comum de lidar com situações assim, no entanto, esta atitude não ajuda a criança ou o adolescente a lidar com seus sentimentos, apenas o condiciona a não os expressar, pois ele passa a entender que se assim o fizer terá consequências. Embora essa forma de correção tenha as suas vantagens, como em muitos casos cessar aquele comportamento inadequado, ele também pode passar a mensagem que não se deve expressar sentimentos, pois expressá-los tem consequências negativas.
De forma semelhante, outros sentimentos podem ser impedidos de serem expressados, como ocorre quando a criança manifesta tristeza e os pais apenas dizem que ela não tem motivos para ficar triste e por vezes dão algum presente ou fazem alguma coisa para que ela se sinta melhor, o que pode passar a ideia de que ficar triste também não é algo permitido. Enfim, poderíamos citar outros exemplos, mas para o propósito deste artigo é suficiente termos em mente que a repressão dos sentimentos não é a melhor alternativa que temos.
Voltando para a situação imaginária que descrevemos, uma atitude mais educativa seria, esperar algum tempo, até que a tensão diminuísse um pouco, pois tentar dialogar no momento em que ambos estão sob estresse costuma não apresentar bons resultados, e explicar para a criança ou adolescente que você entende que ele se sinta frustrado em não ter o que queria, que entende que é natural que naqueles situações ele tenha sentimentos como raiva, no entanto, bater à porta com violência não é a melhor alternativa para lidar com seus sentimentos, pelo contrário, pode fazer com que acabe ficando de castigo por apresentar um comportamento inadequado.
Você pode ajudá-lo a pensar em outras maneiras de lidar com a sua frustração ou mesmo ensinar algumas estratégias para serem usadas quando for tomado por aquele sentimento.
Nas situações em que a criança ou adolescente vive com ambos os pais, uma boa alternativa é que a conversa seja realizada pelo membro da família que está menos envolvido emocionalmente com a situação, pois isso pode facilitar o acolhimento e ajudar para que a conversa ocorra de forma mais assertiva.
Clayton Peixoto