Clayton Peixoto

EDUCAÇÃO, UMA HERANÇA DOS PAIS.

Herança pode ser entendida como o conjunto de bens que uma pessoa deixa para os herdeiros após a sua morte. Você já parou para pensar que se a vida seguir o seu curso natural é provável que você parta desse mundo antes dos seus filhos? Se isso acontecer, qual tipo de herança você deixará? Você já se perguntou qual é a maior legado que vai ficar para os seus filhos quando você não estiver mais aqui?

É muito comum pais que se preocupam com o futuro dos filhos pensar em construir algum patrimônio, algo de valor que possa proporcionar segurança para os filhos na sua ausência. Apesar desta atitude ser bastante prudente, quando pensamentos em deixar algo para os filhos, frequentemente pensamos em patrimônio material. No entanto, por mais recursos que os pais deixem para os filhos, esses recursos estão passivos de acabar se não forem adequadamente administrados. Todavia, existe um tipo de patrimônio “imaterial” que os pais podem deixar que não se perde, que vai ficar gravado na existência dos filhos: a educação.

Um provérbio antigo já dizia: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” O que traz a ideia de que o que aprendemos na infância costuma ter um impacto duradouro em nossas vidas.

A lei de diretrizes da educação brasileira, nº 9.394 de 20 de dezembro de 2020 em seu artigo primeiro diz que “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Conforme podemos observar, a educação se desenvolve em amplos contextos da sociedade, mas ela deve iniciar na família. Assim como o útero é o ambiente fundamental para a formação do bebê, a família é o ambiente fundamental para a formação do ser humano. Isso porque, em situações normais, o lar da família é o primeiro ambiente da vida de um ser humano.

Na psicoterapia com crianças, é comum observarmos pais preocupados com a mudança de comportamento de seus filhos. No caso de crianças muito pequenas, frequentemente os problemas que elas apresentam não são delas especificamente, comumente são alterações proveniente de alguma instabilidade no ambiente de vida da criança, no caso a família.

Assim, a vida familiar da criança em si, consiste em um processo educativo, independente dos pais se darem conta disso ou não. Ou seja, estamos ensinando algo aos nossos filhos o tempo todo, mesmo quando não damos atenção a eles.

A escola britânica de psicanálise foi responsável pela construção de uma teoria que ficou conhecida como a teoria das relações objetais. Segundo esta teoria a busca por contato e relacionamento são as principais motivações do comportamento humano. Assim, quando o bebê mama não é só o leite que ele quer, quer também o contato com a mãe e a relação humana é também importante quanto o alimento para a criança.

Para o propósito deste artigo, entre várias coisas importantes que aprendemos com essa corrente teórica, destaco que a ideia de que as primeiras relações da criança vão determinar como ela se relacionará com outras pessoas ao longo da vida. Se as primeiras relações foram estáveis e proporcionarem confiança a criança, muito provavelmente ela terá uma saúde mental melhor e se relacionará de forma mais segura com as outras pessoas. Por outro lado, se as primeiras relações foram instáveis e a criança não se sentir segura isso aumenta as chances dela desenvolver mais tarde problemas mentais e se relacionar de forma insegura com outras pessoas. Ou seja, crianças que não conseguem confiar nos pais serão adultos com dificuldades em confiar em outras pessoas, o que pode impactar severamente as suas relações adultas.

Dizendo de outra forma, ensinamos as crianças explicando a elas as coisas, mas ensinamos principalmente nos relacionando com elas. O problema é que hoje muitos pais se relacionam muito mais com os celulares do que com os filhos. Nos últimos anos os pais foram se acostumando a dar um tablet ou um celular para que a criança não o incomodasse e isso vem causando um impacto terrível nas relações e na saúde das crianças, tanto sob o ponto de vista da qualidade das relações quanto sob o ponto de vista da saúde mental. É enorme a quantidade de crianças estressadas, deprimidas e ansiosas unicamente por não estarem dormindo na quantidade de tempo e com a qualidade que esta fase do seu desenvolvimento biológico exige.

Como foi dito acima, a educação das crianças é um trabalho que deve começar em casa, mas ela não tem sido feita por pais, que devido a múltiplos fatores, entre eles o excesso de trabalho ou mesmo o desinteresse real em se envolver na educação dos filhos, o que tem gerado consequências negativas, principalmente para o desenvolvimento emocional dos filhos, tão dependente da relação com os pais nos primeiros anos de vida.

Clayton Peixoto

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