Clayton Peixoto

O uso de antidepressivos é indicado para o luto?

O luto é uma reação normal e natural à perda de alguém significativo em nossas vidas. É um processo de adaptação emocional que envolve sentimentos de tristeza, dor, raiva, confusão e até mesmo alívio. Embora seja uma experiência difícil, na maioria dos casos, o luto não requer o uso de antidepressivos.

Antidepressivos são medicamentos prescritos para tratar a depressão, um transtorno de humor caracterizado por sentimentos persistentes de tristeza, falta de interesse ou prazer, alterações no sono e no apetite, falta de energia e outros sintomas.

Atualmente vemos uma resistência por parte de grande parte das pessoas em vivenciar os seus sofrimentos, como se o sofrer não fosse algo pertinente a vida e do qual devemos fugir ou se não for possível fugir, ao menos nos anestesiar de modo a nos distanciar do sofrimento. Nesse sentido, não é incomum as situações nas quais as pessoas ao vivenciarem um sofrimento natural, como o caso do luto, buscarem um medicamento para fugir do sofrimento.

Existem situações em que uma pessoa que está enlutada pode desenvolver uma depressão maior, que é uma forma de depressão clínica. Se o luto se prolonga por um período demasiado (critério que deve ser analisado com muita cautela, pois é muito subjetiva a avaliação de tempo de sofrimento diante de uma perda) e causa um sofrimento intenso, afetando significativamente a vida diária, o funcionamento social e a saúde mental, pode ser necessário buscar intervenção médica para tratar uma possível depressão, não o luto, pois o luto é um processo fundamental de elaboração emocional da perda. O processo de luto possibilita que a pessoa enlutada possa se reorganizar psicologicamente diante da perda e um corte desse processo por meio do uso inadequado de medicações ou outras drogas pode fazer com que as questões relativas aquela perda permaneça presentes por muito mais tempo do que ocorreria se a pessoa passasse normalmente pelo processo. Além disso, o luto tem um papel de estruturação e fortalecimento mental para que a pessoa possa lidar com outras perdas. É como se a pessoa que vivencia adequadamente, pudesse ressignificar o sentido das perdas e de alguma maneira inclusive estar mais forte para lidar com sofrimentos futuros, que inevitavelmente todos passamos.

É importante entender que cada pessoa lida com o luto de maneira diferente. Algumas pessoas podem se beneficiar do suporte emocional, terapia individual ou em grupo, ou outras formas de apoio psicológico para ajudá-las a atravessar o processo de luto. Em alguns casos, um profissional de saúde mental pode recomendar o uso de antidepressivos se houver evidências de uma depressão maior relacionada ao luto.

A decisão de usar antidepressivos durante o luto deve ser feita em conjunto com um médico ou psiquiatra, considerando a gravidade dos sintomas, o histórico médico da pessoa e outros fatores relevantes. É importante lembrar que os antidepressivos não são uma solução mágica para o luto e nem para outras formas de sofrimento e devem ser combinados com outras formas de apoio psicossocial para obter melhores resultados.

Clayton Peixoto

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *